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Livro "Genéricos - A fraude".

Palavras-chave: Livro, Literatura de ficção, Romance, Thriller.

Abaixo a sinopse e o prólogo do livro "Genéricos - A fraude".

SINOPSE

Um  da Agência Nacional de Vigilância Sanitária morre de maneira misteriosa na Índia. Havia avaliado uma fábrica de medicamentos genéricos, que exportava seus produtos para o Brasil. Um funcionário graduado da mesma empresa, a Xabar farmacêutica, é assassinado em condições também suspeitas. O que essas mortes têm em comum?

Anos depois a Justiça americana recebe uma série de denúncias graves envolvendo a referida companhia. Suas drogas eram vendidas no mundo todo, incluindo a África, abastecida com medicamentos contra a AIDS. Dominavam uma parte importante do mercado americano, com lucros bilionários. As investigações e desdobramentos do caso, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, levam a descobertas surpreendentes sobre a indústria de medicamentos genéricos. Vidas são colocadas em risco em detrimento da ganância econômica.

PRÓLOGO 

Eu jamais poderia imaginar as consequências que a abertura daquela correspondência traria em minha vida. Ela chegou em casa e não no trabalho. Lembro até hoje, mesmo tendo passado… Meu Deus! Já se foram dez anos. Aquele envelope amarelo e azul, com a marca da empresa de entregas expressas, em preto. Ele não era tão grande, mas estava cheio de documentos. Era pesado. Abri-o sem pressa e sem entender a razão do meu amigo Pedro Bastos o ter enviado de Nova Deli, na Índia. Continha documentos impressos em papel A4. No meio deles havia o que deu início a tudo e a razão que decidi escrever esse livro: três pen drives , com capacidade de muitos gigas de armazenamento. A data da postagem era do dia anterior em que Pedro foi encontrado morto em seu quarto de hotel. Recebi o envelope quase ao mesmo tempo que fiquei sabendo da sua morte. 

Morreu de infarto, falaram. Lembro quando me ligaram para contar. Estava em casa sozinho e não conseguia levantar do sofá. Fiquei em um estado de catatonia por minutos. Como assim morreu? De infarto? Como alguém de 40 anos, magro, que fazia exercícios constantes, poderia morrer de infarto? Pedro corria mais de 5 quilômetros por dia. Nunca fumou e bebia muito pouco, socialmente. Não sou médico, mas era estranho. Alguns disseram que a causa poderia ter sido stress , pelo excesso de trabalho. Mas ele sempre viveu sob pressão. Nunca reclamou de nada e era apaixonado pelo que fazia. 

Pedro, sem dúvida alguma, era uma das pessoas mais bem preparadas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Por isso o designaram para aquela inspeção. Designar não é bem a palavra. Batalhou para que aquela inspeção ocorresse. Lutou com todas as suas forças. Antes não tivesse ido. 

Ele era focado e com um faro de detetive. Não aceitava explicações mal dadas ou se deixava levar pelo emocional quando percebia os agrados dos presidentes das companhias farmacêuticas. Durante os processos de inspeção que realizava, recusava qualquer interação com as pessoas envolvidas, fora do âmbito profissional. Mal aceitava um café, quanto mais convites para almoços e jantares. Sempre dava a mesma desculpa: que estava muito cansado e que precisava colocar o trabalho em dia. Não era um acadêmico, como eu. Formado em farmácia, dedicou sua vida a controlar medicamentos e inspecionar as fábricas que os produzia. Era incomparável. Parecia ter um sexto sentido para perceber as coisas erradas, resultado de anos de prática, dedicação e aperfeiçoamento constantes. Carregava sempre consigo os extensos manuais de boas práticas da Anvisa. Diziam que os sabia de cor. Não duvido. Ele tinha um talento especial para o tipo de trabalho que exercia. 

Me lembro que chegamos juntos em Brasília para começarmos a trabalhar. Ele tinha se formado no Paraná, em farmácia e bioquímica, e eu em São Paulo. A vida dele era o trabalho. Gostava de ter as “mãos na massa”, como se diz. Estava noivo de uma simpática e bonita nutricionista. Casaram-se alguns meses depois de sua chegada. Ela acabou arrumando emprego em um hospital público de Brasília. Tiveram uma filha, Manoela, que deve ter uns 16 anos agora. Mal sabia ela que o pai não iria vê-la crescer.

Eu sempre fui solteiro. Queria crescer na agência, mas também na carreira acadêmica. Fiz mestrado, doutorado e pós-doutorado nos Estados Unidos, em Nova Iorque, onde fiquei por 2 anos. Uma vez o Pedro fez um estágio no FDA (Food and Drug Administration) , a agência reguladora americana para medicamentos, equipamentos médicos, insumos e alimentos. Fica em Maryland. Pedro estagiou lá por 6 meses. Todos ficaram impressionados com ele. Em pouco tempo deu a impressão que estava ali para ensinar e não aprender as técnicas de fiscalização, inspeção e boas práticas relacionadas à indústria farmacêutica. Foi uma troca de experiência importante e lhe acrescentou muito. Fez contatos que lhe seriam valiosos. Quando terminou o estágio, ficou uns dias a mais comigo, em Nova Iorque. Contou detalhes do estágio e algo que pouca gente ficou sabendo. Eles lhe fizeram um convite para trabalhar com eles no FDA . Acharam que o seu talento com inspeções poderia ajudá-los; especialmente diante da necessidade crescente de serem conduzidas fiscalizações de fábricas fora do território americano. Mas ele nem levou o convite a sério. Agradeceu e disse que no futuro avaliaria. Mas falou isso só por educação. Era um apaixonado pelo Brasil e suas coisas. Encarava seu trabalho como uma missão para a construção de um país melhor. Pobre amigo. Devia ter aceitado o convite. Talvez estivesse vivo agora. 

Para que todos saibam o que aconteceu, resolvi contar tudo da melhor maneira possível, nesse livro. Pedro não me enviou todos os documentos para que eu os guardasse. Não! Ele os enviou porque pressentiu que algo de grave poderia ocorrer com ele. Ainda bem que deu tempo de me enviar. O fez esperando que tudo fosse divulgado. E esse livro nada mais é que o seu diário, acrescido de pesquisas e investigações que fiz. Explicarei todo o material que recebi, detalhadamente. 

Como já falei, a minha vida mudou muito depois de tudo o que aconteceu. Nem sabia que o Brasil tinha um programa de proteção a testemunhas. Tem um nome chique: “Programa Federal de Assistência e Proteção a Vítimas e Testemunhas ameaçadas”, conhecido como PROVITA. E jamais poderia imaginar que seria colocado nele. Meu nome? Não falarei. Nem o antigo, nem o novo. Minha identidade e todos os documentos foram trocados. Até minha aparência física mudou, mediante uma cirurgia plástica custeada pelo governo. Estou escondido no interior do Brasil. Vivo sozinho em uma pequena chácara, isolado do mundo. Minhas poucas despesas também são pagas pelo governo. Alguns raros vizinhos me conhecem apenas como um escritor que se exilou para escrever. E isso não deixa de ser verdade. Esta é a minha obra. Talvez seja a única da minha vida, mas é o mínimo que poderia fazer em memória de meu amigo, que tinha como irmão: Pedro Bastos.

Me falaram que posso ficar nesse programa por dois anos. Ainda tenho medo. Menos agora, mas tenho uma arma em casa. Para ser franco, aprendi a usar mais recentemente. Me transmite uma certa sensação de segurança. Sei que é uma sensação falsa, mas não me importo. Olho para fora enquanto escrevo. Um vento gostoso balança uma árvore, justo defronte à minha janela. Sinto ele na minha face. Penso no meu futuro. Os anos que passei nos Estados Unidos não foram em vão. Consegui um emprego no FDA e estou aguardando os papéis para retirar o visto de trabalho. Fiz um contato sigiloso com Suresh Kini, um amigo comum meu e de Pedro. Saberão mais sobre ele nesse livro. Estou sem ansiedade para partir, mas tenho necessidade de trabalhar na minha área. Não quero tomar mais seu tempo nessa introdução. Vamos à história.

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