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Como aprender melhor? Parte I – “Focado e Difuso”.

Palavras-Chave: aprendizagem, modo focado, modo difuso.

Nós sempre tivemos o conceito de que a melhor forma de aprender é mantendo o foco, prestando atenção. É muito fácil nos distrairmos quando precisamos focar em algo, especialmente com leituras e estudo.
Mas se distrair perdendo o foco é uma péssima coisa para a aprendizagem, certo?
Não necessariamente.
Muitas vezes precisamos “perder a concentração”, para poder pensar melhor. Não todo o tempo, obviamente, mas pode ajudar quando estiver aprendendo ou resolvendo problemas. Algumas vezes precisamos de menos foco para aprender melhor.
Os neurocientistas descobriram que o nosso cérebro trabalha de duas formas diferentes:  focada e difusa. Quando estamos usando a forma focada, significa que estamos prestando atenção. Colocamos partes específicas do cérebro para trabalhar. Fazemos isso quando tentamos resolver um problema de matemática, prestamos atenção em uma aula, estamos aprendendo palavras de uma língua nova ou até mesmo estivermos jogando um videogame ou resolvendo um quebra-cabeças.
Para aprender algo novo deve-se primeiro focar propositadamente para ativar certas partes do cérebro e dar início ao processo de aprendizagem.
E em relação à forma difusa?
Na forma difusa nosso cérebro está relaxado e livre. Não está se pensando em nada em particular. Estamos assim quando estamos “sonhando acordados” ou rabiscando algo em um papel à toa. Se alguém diz: “preste atenção” provavelmente você passou para o estado “difuso” sem perceber.
No modo difuso, passamos a usar outras partes do cérebro que são diferentes das do modo focado. A forma difusa ajuda a fazer conexões criativas entre as ideias. Geralmente a criatividade aflora no modo difuso. 
Para aprender de maneira efetiva, nosso cérebro necessita fazer alternâncias entre os modos focado e difuso. No primeiro pensamos nos “detalhes” e no segundo pensamos mais livremente no “quadro geral”. Mas o cérebro não pode estar nos dois modos ao mesmo tempo e sim em apenas em uma das formas de cada vez. 
Entrar no modo focado é fácil. Entretanto é difícil mantermos nossa atenção em algo por longos períodos de tempo e quando percebemos caímos no modo difuso e começamos a “sonhar acordados”. Podemos entrar no modo difuso ao não nos concentrarmos em nada específico. Por exemplo: ao Fazer uma caminhada, olhar pela janela, tomar um banho, dar um cochilo, etc. Ao focar em algo diferente do que estamos fazendo, também permite que entremos no modo difuso em relação à atividade inicial. Assim, se estivermos “enroscados” na resolução de um problema seria melhor darmos um tempo e focarmos em outro, para depois retornar ao inicial. Ou seja, se estamos estudando algo e ficarmos “presos” no assunto podemos mudar e estudar um tópico diferente.
Dessa forma, podemos usar o modo difuso (dormir, fazer exercícios, dar uma volta de carro) para “dar um tempo” e retornarmos depois para o modo focado, e permitir que que as soluções apareçam ou tenhamos maior retenção de conhecimento nos estudos. No modo difuso o cérebro continua trabalhando na aprendizagem silenciosamente, embora não tenhamos consciência disso. Mas para o modo difuso nos ajudar a reter conhecimento devemos ter passado pelo modo focado de maneira adequada antes.

Importante dizer que a duração dos intervalos de modo difuso depende de quanto material tivermos para estudo no dia. O ideal é que os intervalos não sejam muito longos (ao redor de 5 a 10 minutos). Assim, após um período de trabalho concentrado (de pelo menos 10 a 15 minutos) devemos mudar para um período de modo difuso, o que permite uma maior possibilidade de retenção. Repetimos esse ciclo várias vezes para resultados melhores.
As atividades feitas para ativarmos o modo difuso em nossos cérebros, podem ser vistas como recompensa após os períodos de foco. Outros exemplos de ativadores de modo difuso: dançar, andar de bicicleta, desenhar, pintar, ouvir música (preferencialmente sem as letras), tocar um instrumento musical, meditar, orar, dormir (o mais clássico), jogar videogame, conversar com amigos, ajudar alguém em alguma outra atividade, ler um trecho de um livro, trocar mensagens com amigos, assistir um filme ou parte dele, ver televisão.
Em próximas postagens abordaremos as formas de usar bem o modo difuso e evitarmos a procrastinação (adiar demais o trabalho a ser feito).
Pronto para treinar seu cérebro a alternar entre a forma focada e difusa?

Fonte: OAKLEY, Barbara. A Mind for Numbers: How to Excel at Math and Science. 1. ed. New York: Penguin Group, 2014. 322 p. 

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