A notícia não é nova. No
final do ano passado, uma fã morreu durante a apresentação da cantora Taylor
Swift no Rio de Janeiro. Ana Clara Benevides uma universitária de 23 anos, juntou dinheiro há um bom tempo e veio ao show com amigas. Pegou um
avião pela primeira vez na vida para realizar o sonho alimentado durante meses.
Quando as primeiras músicas eram tocadas, Ana, espremida no meio de 60 mil
pessoas, caiu e não acordou mais. Era uma jovem querida e carismática que
dentre de pouco tempo iria se formar em psicologia em uma Universidade Federal.
Não sei bem a razão, talvez por ser médico, que quando vejo alguma notícia desse tipo fico curioso para saber a causa da morte. Fico acompanhando as notícias, seus desdobramentos até me satisfazer, ou não. E se algum tempo depois, não acho nada nas mídias, faço uma pesquisa para saber onde foi que as investigações do fato pararam. Por exemplo, quando aquela família desapareceu após uma viagem simples para comemorar o aniversário da filha no interior de São Paulo, fiquei seguindo a notícia até ter mais informações. Não tenho nenhum prazer mórbido com isso. É apenas curiosidade mesmo pelos muitos absurdos e crimes que permeiam a nossa simples existência nesse país.
Taylor Swift fez um show milionário percorrendo inúmeros países. Indiscutível seu talento para atrair multidões. Eu particularmente gostava mais dela no início de carreira quando cantava música country, mas isso não vem ao caso, exceto para revelar que tenho idade para ser o pai da maioria de seus fãs atuais. Não houve nenhuma morte em qualquer show seu ao redor do mundo. Tinha que ser por aqui. Surgiram especulações iniciais das causas que apontavam o calor excessivo e a desidratação como responsáveis pelo colapso de Ana Clara.
Pouco mais de um mês depois de sua morte saiu o resultado da autópsia indicando a causa de sua morte: “exaustão térmica”. O calor excessivo causou, dentre outras coisas, hemorragia nos pulmões da pobre jovem. Não foi achado nenhuma gota de álcool ou drogas no seu corpo, ou alguma anormalidade prévia que justificasse a sua parada cardíaca, como esperado. Fatalidade ou algo que poderia ser evitado? Fico com a segunda. Medidas simples, como a ingestão adequada de água, talvez tivessem evitado a tragédia. Pouco importa a empresa organizadora do evento dizer que em 40 anos de sua atuação nunca ocorreu nada grave. Aconteceu agora. E a verdade é que não se permitiu que as pessoas entrassem com água no show (como em todos no Brasil, aliás) enquanto uma garrafinha com o precioso líquido era vendida a quase dez reais no local. Também não é tão fácil de se achar água para comprar em megaeventos dessa natureza. Precisou morrer alguém para saírem determinações oficiais de que água, sim, água, fosse liberada para entrada em shows, bem como distribuída gratuitamente e disponibilizados bebedouros. Mas o pior é saber que segundo o Procon a lei brasileira já permitia que os consumidores levassem água em shows, contanto que as embalagens sejam feitas de material seguro como plástico. Ou seja, a lei não é cumprida e fica por isso mesmo? Quanto vale uma vida perdida?
Fico imaginando se ocorreria uma morte desse tipo nos Estados Unidos. Talvez algum dia alguém lá tente entrar em algum show disfarçado com uma cadeira de rodas cheias de explosivos como em algum livro do Stephen King. Mas no Brasil, não. Aqui se morre de desidratação. Crianças são esquecidas em vans escolares e morrem fritadas. Ainda se morre de escravidão em latifúndios pertencentes a gente do “bem” e também em centros urbanos em indústrias clandestinas. Saiu essa semana o número de mortes no trânsito na cidade de São Paulo durante o ano passado: quase mil pessoas. Somos sempre os recordistas das desgraças. A vida se tornou um produto barato e de baixa qualidade.
Se uma morte dessa natureza tivesse ocorrido nos EUA, muito provavelmente a família da vítima teria que ser indenizada em milhões de dólares. Entretanto, um fato também me chamou a atenção nessa triste história. Impossível saber o que passa no interior das pessoas e a dor incalculável da perda de um filho. Alguns dias depois da morte de Ana, seus familiares foram vistos na área vip do show realizado na cidade de São Paulo. Tiveram direito a uma interação com a cantora e fotos. Aparecem ao lado da artista, sorrindo e com camisetas estampando a foto da jovem. Até outra artista também se aproximou deles para se solidarizar, afinal de contas todo mundo parece querer tirar uma “casquinha” do sofrimento alheio. Fico imaginando de quem foi a ideia de receber os familiares dessa forma e qual a boa intenção nisso.
Há poucos dias circulou na internet alguns vídeos que documentaram a entrega dos prêmios “Globos de Ouro” na América. Me chama a atenção como os artistas se comportam. As poses que fazem para os fotógrafos e cinegrafistas são uma aula de “naturalidade”. Até seus discursos “espontâneos” parecem saídos de um script fixo que eles parecem ter durante a vida. Taylor Swift apareceu deslumbrante, fazendo pose com um vestido verde que parecia um embrulho de presente de natal, em papel celofane. Os flashes das câmeras não paravam de pipocar documentando seu sorriso postiço. Depois de alguns segundos saiu caminhando lentamente e deu aquela viradinha de pescoço e olhar sexy em nova pose. Sempre que a vejo agora, lembro de Ana Clara Benevides, de 23 anos, que morreu em seu show.
Não sei bem a razão, talvez por ser médico, que quando vejo alguma notícia desse tipo fico curioso para saber a causa da morte. Fico acompanhando as notícias, seus desdobramentos até me satisfazer, ou não. E se algum tempo depois, não acho nada nas mídias, faço uma pesquisa para saber onde foi que as investigações do fato pararam. Por exemplo, quando aquela família desapareceu após uma viagem simples para comemorar o aniversário da filha no interior de São Paulo, fiquei seguindo a notícia até ter mais informações. Não tenho nenhum prazer mórbido com isso. É apenas curiosidade mesmo pelos muitos absurdos e crimes que permeiam a nossa simples existência nesse país.
Taylor Swift fez um show milionário percorrendo inúmeros países. Indiscutível seu talento para atrair multidões. Eu particularmente gostava mais dela no início de carreira quando cantava música country, mas isso não vem ao caso, exceto para revelar que tenho idade para ser o pai da maioria de seus fãs atuais. Não houve nenhuma morte em qualquer show seu ao redor do mundo. Tinha que ser por aqui. Surgiram especulações iniciais das causas que apontavam o calor excessivo e a desidratação como responsáveis pelo colapso de Ana Clara.
Pouco mais de um mês depois de sua morte saiu o resultado da autópsia indicando a causa de sua morte: “exaustão térmica”. O calor excessivo causou, dentre outras coisas, hemorragia nos pulmões da pobre jovem. Não foi achado nenhuma gota de álcool ou drogas no seu corpo, ou alguma anormalidade prévia que justificasse a sua parada cardíaca, como esperado. Fatalidade ou algo que poderia ser evitado? Fico com a segunda. Medidas simples, como a ingestão adequada de água, talvez tivessem evitado a tragédia. Pouco importa a empresa organizadora do evento dizer que em 40 anos de sua atuação nunca ocorreu nada grave. Aconteceu agora. E a verdade é que não se permitiu que as pessoas entrassem com água no show (como em todos no Brasil, aliás) enquanto uma garrafinha com o precioso líquido era vendida a quase dez reais no local. Também não é tão fácil de se achar água para comprar em megaeventos dessa natureza. Precisou morrer alguém para saírem determinações oficiais de que água, sim, água, fosse liberada para entrada em shows, bem como distribuída gratuitamente e disponibilizados bebedouros. Mas o pior é saber que segundo o Procon a lei brasileira já permitia que os consumidores levassem água em shows, contanto que as embalagens sejam feitas de material seguro como plástico. Ou seja, a lei não é cumprida e fica por isso mesmo? Quanto vale uma vida perdida?
Fico imaginando se ocorreria uma morte desse tipo nos Estados Unidos. Talvez algum dia alguém lá tente entrar em algum show disfarçado com uma cadeira de rodas cheias de explosivos como em algum livro do Stephen King. Mas no Brasil, não. Aqui se morre de desidratação. Crianças são esquecidas em vans escolares e morrem fritadas. Ainda se morre de escravidão em latifúndios pertencentes a gente do “bem” e também em centros urbanos em indústrias clandestinas. Saiu essa semana o número de mortes no trânsito na cidade de São Paulo durante o ano passado: quase mil pessoas. Somos sempre os recordistas das desgraças. A vida se tornou um produto barato e de baixa qualidade.
Se uma morte dessa natureza tivesse ocorrido nos EUA, muito provavelmente a família da vítima teria que ser indenizada em milhões de dólares. Entretanto, um fato também me chamou a atenção nessa triste história. Impossível saber o que passa no interior das pessoas e a dor incalculável da perda de um filho. Alguns dias depois da morte de Ana, seus familiares foram vistos na área vip do show realizado na cidade de São Paulo. Tiveram direito a uma interação com a cantora e fotos. Aparecem ao lado da artista, sorrindo e com camisetas estampando a foto da jovem. Até outra artista também se aproximou deles para se solidarizar, afinal de contas todo mundo parece querer tirar uma “casquinha” do sofrimento alheio. Fico imaginando de quem foi a ideia de receber os familiares dessa forma e qual a boa intenção nisso.
Há poucos dias circulou na internet alguns vídeos que documentaram a entrega dos prêmios “Globos de Ouro” na América. Me chama a atenção como os artistas se comportam. As poses que fazem para os fotógrafos e cinegrafistas são uma aula de “naturalidade”. Até seus discursos “espontâneos” parecem saídos de um script fixo que eles parecem ter durante a vida. Taylor Swift apareceu deslumbrante, fazendo pose com um vestido verde que parecia um embrulho de presente de natal, em papel celofane. Os flashes das câmeras não paravam de pipocar documentando seu sorriso postiço. Depois de alguns segundos saiu caminhando lentamente e deu aquela viradinha de pescoço e olhar sexy em nova pose. Sempre que a vejo agora, lembro de Ana Clara Benevides, de 23 anos, que morreu em seu show.
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